Pode soar meio new age da minha parte, mas tenho cá pra mim que o maior desafio do ser humano é se livrar da necessidade louca de segurança, pra ser feliz de verdade.
Quando eu ouço o bom e conhecido “o seguro morreu de velho”, até me ataca um cacoete. Por dois motivos:
O primeiro eu até explico com outro dito, de William Shedd: “Um barco, no ancoradouro, está seguro. Mas não é para isso que os barcos são feitos”.
Mas o segundo é o meu preferido: desde quando somente as atitudes do seguro são fator determinante da sua própria segurança?
Atravessar na faixa não impede ninguém de ser atingido por um carro desgovernado.
Veja bem, isso não é um ode à quebra das regras todas, não tô dizendo pra ir dançar frevo no meio do cruzamento. Eu só acho que é uma questão de análise de “custo-benefício”. O que é que você perde, pra ganhar o que ganha?
Quanto valia a vida do policial à paisana, assassinado ontem, ao tentar impedir um assalto numa lotérica, aqui perto da minha casa?
Quanto vale a alegria daquela menina que eu vejo no mesmo ponto de ônibus, nos mesmos horários, com o mesmo uniforme da loja de sapatos, há mais de cinco anos? Eu posso estar enganada, mas será que o salário dela vale a expressão mau-humorada com a qual eu até me acostumei?
Quanto vale a sua liberdade?
Quanto vale poder errar e acertar sem se sentir culpado, quanto vale se sentir vivo?
Estar deitada no colo da mãe, o que parece ser o lugar mais seguro do mundo, não impediu a Maira de tomar uma laranjada no nariz. Fui eu quem jogou, foi sem querer e eu já pedi milhares de desculpas, mas o que eu quero dizer é que ela, deitada ali, provavelmente sentia que nada de ruim podia acontecer.
Usando a paçoca como exemplo novamente (coitada, se fode mais que eu): ontem, ela foi caminhar pelo bairro, que é tranquilo e relativamente seguro, e acabou correndo de quatro cães-de-guarda. Quem poderia prever que um dono sem-noção ia deixar os bichos soltos, num horário onde puta galera sai pra caminhar?
Enfim, quando ela chegou, o meu pai disse que ela não devia ter corrido e sim ficado parada, ou ainda, ido na direção dos cães! Ele já o fez. Talvez essa minha coragem venha um pouco daí, vai saber.
De qualquer forma, nesses cinco anos, onde parece que eu já fiz tanta doideira, acredito ter aprendido mais do que a menina dos sapatos.
Acordar já é perigoso. Se você pretende nem sair da cama, se mata.
“No bird is meant to be caged.”
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